Terapia Narrativa: reescrever a própria história
Na Terapia Narrativa parte-se da ideia de que as pessoas constroem sentido para a vida através das histórias que contam sobre si mesmas. Essas narrativas pessoais, que construímos a partir das experiências, das relações e da cultura que vivemos, moldam a forma como interpretamos o passado, lidamos com o presente e imaginamos o futuro. Quando uma história se torna dominada por um problema e a pessoa se vê de determinada forma (por exemplo: "sou ansioso", "fracasso sempre", "não consigo mudar"), esta história limita a pessoa no seu dia-a-dia, provoca angústia e afeta a forma como o individuo se perceciona e se comporta.
O modelo narrativo procura separar a pessoa do problema. Em vez de "ser o problema", o paciente passa a observá-lo à distância: "a ansiedade tenta controlar os meus dias", "a culpa interfere nas minhas decisões". A mudança linguística e conceptual é central e devolve à pessoa a sensação de autoria e de escolha. O problema deixa de ser uma identidade pessoal e passa a ser uma influência que pode ser compreendida e transformada.
O psicólogo atua como um colaborador na investigação da história, ou seja, alguém que faz perguntas intencionais, mas não impõe interpretações. O diálogo é construído de forma a descobrir momentos em que a narrativa dominante não teve total controlo: pequenas exceções, resistências silenciosas, episódios de coragem, cuidado ou autonomia que ficaram esquecidos. As descobertas tornam-se os pontos de partida para reconstruir novas narrativas, mais ricas, coerentes com os valores, e alinhadas com o tipo de vida que a pessoa deseja viver.
Ao longo das sessões o paciente formula novas descrições de si mesmo e das relações com os outros. A linguagem passa a expressar competências, valores e recursos internos, em vez de refletir somente sintomas ou falhas. Pequenas mudanças e implementação de técnicas, como dar nome ao problema, reconhecer aliados e identificar momentos em que se resistiu, podem alterar profundamente a forma como a pessoa age e sente.
A Terapia Narrativa é aplicável em múltiplos contextos: trauma, ansiedade, depressão, luto, conflitos familiares, crises de identidade, dificuldades relacionais, fases de transição, entre outros.
Mais do que "corrigir" o que está errado, o modelo narrativo propõe ampliar a visão de si próprio e promover a coerência. Quando repensamos as nossas histórias, construímos e reconstruímos significados, relações e direções de futuro.